Lebasi
Isabel tem uma buchinha de papel na parte que corresponde as
lembranças, e descobriu que não adianta molhar. Evitou uns dias ouvir histórias
de sua avó nas noites de chuva, enquanto comia suas cinco bolachas contadas;
nessa noite sua avó errou no cálculo, e uns comeram sete, outros três; seria
melhor errar na contagem do que na educação de sua neta, que não compareceu.
Isabel ainda criança adquiriu o hábito de pensar, captando
desde palavras a focos de luz, que olhava fixamente, disputando piscadas de
olhos e perdendo sempre; logo cedo organizou seu material, caso fizesse sol ou
chuva. Produzia seus cadernos, de modo a escrever com as duas mãos; quando
pequena lhe ensinaram a escrever com a mão direita, mesmo sendo canhota; sem
perder tempo viu outra possibilidade de se divertir. Mesmo sendo limitada ao
espaço, inverteu sua criatividade e se fechou em pensamentos, com o tempo foi
deixando de lado os amiguinhos de sua idade. Aos 15 anos, sentiu que as
crianças havia lhe abandonado, pois não ouvia mais vozes infantis; quando
olhando pra uma folha caindo e afundando em uma poça d’água, entendeu que se
adaptou a sua própria voz no pensamento, e que ela não era mais uma criança.
Correu pra casa de sua avó, sem perceber traçou o mesmo caminho, só que agora
com sinal negativo, buscando a chuva e o tempo que não sabia se julgava perdido
ou não.
Cintya Thaís-19/05/13-