terça-feira, 30 de abril de 2013



“Infâncias” sempre são iguais...

“Um menino do grupo dizia que educação vinha do berço e eu me sentia mal-educado. Ele andava devagar, arrastando os pés como se fatigado pela falta do que fazer. Para curar a vida só com muito chá-de-pouco-caso, lamentava pelo meio da casa. Cada quarto, cada sala, cada cômodo, uma página. Ele subia em cadeira, trepava em escada, ajoelhava na mesa. Para cada notícia escolhia um canto. Conversa mais indecente, ele escrevia bem no alto. Era preciso ser grande para ler, ou aproveitar quando não tinha ninguém em casa. Caso de visitas, ele anotava o dia, a hora, o assunto ou falta de assunto. Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro. Leitura era coisa séria e escrever, mais ainda. Escrever era não apagar nunca mais. O pior é que, depois de ler, ninguém mias esquece se for coisa de interesse. Se não tem interesse, agente perde ou joga fora. Comecei a reparar, e em minha família ninguém falava papai, mamãe, vovó. Só podia ser por preguiça ou medo de carinho. Cada sílaba um carinho, um capricho penetrando pelos olhos até o passado. Eu sabia os poderes do pai, o silêncio do filho, sem conhecer o espírito santo. Fui feito para pensar além do devido-falava eu- apertando os olhos para esquecer, apagar, anular tudo. Depois, a palavra caía no meu ouvido e levava dias para doer. Pensando devagar, acordado madrugada, eu descobria as tantas coisas sabidas, mas não vistas e outras vistas e não sabidas. Doía muito se menino. E dor, aumentada pelo silêncio, é como dente latejando com nervo exposto. Fé, esperança e caridade assistiam ''O direito de nascer'', como única diversão. Usava caximir- buquê e perfumavam a cidade inteira, dizia minha vó, sem inveja, por preferir alfazema, com rótulo de moça no campo e cesta de flores no braço. ''Viver sem esperança é como ter casa sem janela'', escreveu meu avô, com letra miúda, perto da fechadura. Ele não só Via com os olhos.”
...pois não cabem ambições.
Grifei partes importantes de: POR PARTE DE PAI.

sábado, 27 de abril de 2013



Canto esquerdo



 A mesma dor de cinco anos só que madura. Seria eu madura, ou a dor? Sentou no mesmo lugar e evitou pensar como forma de se desculpar por algo que já vinha lutando pra ser pensado; ela pensou!

Talvez seja inevitável lutar contra o pensamento, talvez de lutar contra a própria vontade; ou o hábito de pensar se torne a própria vontade; ela pensou!

Pensou em levantar-se e esquecer o tão pouco que conquistou. Ou seria o pensamento que teria a conquistado? Talvez devesse parar de fantasiar e alimentar aquele pensamento, mas como controla-lo?

Mudou tantas vezes de lugar, e mesmo assim pensava naquele pensamento e seria melhor pensar logo; mas não era qualquer pensamento, era um pensamento de cinco anos; não podia pensar de qualquer maneira. Até que resolveu abraçá-lo e se entregou. Tudo se resolveu depois de um minuto.
                                     
                                                                                                                                         Cintya Thaís.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

                           Fruto!


A pequena menina via o fruto da árvore, que por sua vez baixava os galhos, como quem lhe oferece algo... Ela se aproximou e todos comemoraram o feito, pois a menina estava na direção certa, na árvore certa, em frente ao fruto certo;  a menina pegou o fruto encostou nos lábios e o deixou cair. Todos disseram: Menina idiota, como pode deixá-lo cair? A árvore guardou o melhor fruto até você chegar, isso o que acontece? Ela agradeceu e acrescentou: Não posso aceitar vocês jamais iriam entender meus motivos, vocês não são humanos como eu; e eu jamais serei como vocês!!

Abaixou-se e procurou as sementes dentro do fruto, catou e enterrou as sementes...

Desde então voltava todos os dias, olhando fixamente a terra, e começou a questionar a árvore:

Por que mandou enterrar tão longe as sementes da minha florzinha?

A árvore respondeu: Por que não quero contato com a planta! Mas que flor? Como pode nascer uma flor de uma semente? É impossível.

A menina gritava: Claro que pode, eu acredito!

Algo surgiu, todos sabiam que era uma nova árvore, mas a menina acredita na flor, a pequena morena flor.

Por que árvore não me deixou plantar aqui perto? Você é tão forte, rígido; não faz mal a minha flor nascer aqui próximo.

E mais uma vez a árvore respondeu: Jamais nascerá uma flor, e essa planta tem que seguir seu caminho sozinho, ela precisa de sol e a minha sombra é muito grande, por isso a distância. A menina com os olhos ex lassos-amante esperou angustiada, e descobriu que sua flor não ia nascer, pois a árvore crescia simples, frágil, sem forças pra competir com a árvore maior. Mesmo assim a menina insistiu em cuidar da árvore; por mais que a morena flor não pudesse existir, existia algo e a menina gritava: VIVA!

A árvore cresceu, frutos começaram a surgir, ela podia comer todas que quisesse não apenas uma. A nova árvore lhe ensinou, só posso te dar frutos, mas de cada fruto, você terá uma sensação diferente.

                                                                                     Cintya Thaís, novembro de 2011!